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Viagens Regenerativas

O movimento necessário para o futuro do turismo responsável

Ao contrário das viagens tradicionais que, muitas vezes, exploram os recursos naturais e as comunidades, as viagens regenerativas desafiam-nos a restaurar e revitalizar os destinos, promovendo a sustentabilidade num ato contínuo. Este movimento emergente traz uma série de vantagens que vão além dos benefícios económicos imediatos, abrangendo dimensões ambientais, sociais e culturais.


Ao longo dos anos, o turismo ganhou uma reputação desfavorável. A interferência constante na natureza para hotéis de luxo, resorts e afins,  levou à erosão do solo, à perda de habitat, à degradação dos recursos ambientais e à exploração da vida selvagem para fins lúdicos ou decorativos. A própria aviação, segundo o Environmental and Energy Study Institute, é responsável por 2,4% das emissões globais de dióxido de carbono.

Além disso, o turismo pode levar à mercantilização da cultura, na qual as tradições e artefactos culturais são vendidos com fins lucrativos para beneficiar a economia local – e a aculturação ocorre quando a presença de uma cultura externa, mais dominante, modifica uma cultura existente.

Contudo, há um movimento emergente que pretende dar um novo rumo ao conceito de turismo de forma a criar um impacto positivo, tanto no viajante como no destino. Estamos a falar de viagens regenerativas, que representam uma mudança de paradigma na forma como abordamos as viagens e o turismo.

A explicação mais complexa, no entanto, é que as viagens regenerativas são um movimento ativo que pode e deve ser incorporado por todos os envolvidos. Não só os próprios turistas, como também as agências de viagens, os prestadores de serviços de transporte e principalmente os prestadores de serviços no local.

Nas viagens regenerativas, a indústria é envolvida com base na ideia de que o turismo se destina a proporcionar experiências aos turistas, meios financeiros sustentáveis ​​para todas as empresas envolvidas, mas igualmente importante, a melhorar a subsistência do destino, tanto ambientalmente como económica e social.

A ideia não é de todo nova – O Ecoturismo, é uma tendência iniciada nos anos 90, intimamente relacionada com as preocupações com as comunidades, a natureza e a economia local. De seguida, apareceu o Voluntariado, uma tendência válida, embora muitas vezes mais focada nas necessidades do viajante do que no ambiente local.

Mais do que sustentabilidade, as viagens regenerativas permitem-nos participar ativamente na reversão das alterações climáticas e no enriquecimento das comunidades.

Lontring uma aventura com preocupações ambientais, de subir o rio Mira de boia e recolher o lixo que encontramos na viagem. Alentejo, Portugal


Este movimento incentiva os viajantes a serem mais conscientes e retribuir mais do que recebem nos destinos que visitam.

Os benefícios da viagem regenerativa

Quando os viajantes apoiam operadores turísticos e empresas locais e sustentáveis, as comunidades recebem os recursos necessários para cuidar e proteger os seus espaços naturais. Quando os viajantes partilham experiências significativas com o território e com os membros da comunidade local, de uma forma mais calma e consciente, são provavelmente mais motivados a respeitá-los e protegê-los durante o processo da viagem e a relação de empatia com a geografia perdura muito para lá da experiência. Curiosamente, as viagens internacionais podem ser uma força para a paz, as boas práticas sociais e o combate à pobreza. Perante a presença de viajantes, os poderes governamentais sentem a necessidade de tornar a população local mais segura, saudável e feliz. O que nos leva a uma win win situation para o viajante e as comunidades locais. As questões climáticas são globais, mas a proteção dos ecossistemas ocorre sempre localmente. É por isso que são uma dimensão importante da viagem regenerativa. Oferecer esta opção aos turistas ainda é pouco comum – esperamos que mais prestadores de serviços sigam a tendência. Com um pouco de esforço e talvez um toque de criatividade, é possível encontrar algo para restaurar em cada destino. Pegando em projetos que desenvolvi no passado e que continuo a procurar caminhos no presente, deixo aqui alguns exemplos em que acredito ter contribuído com impacto positivo, tanto na comunidade como no território.



São Miguel Feito Num Oito

surgiu da vontade de dois amigos explorarem a ilha de São Miguel, Açores, de bicicleta. Além de pedalarem pelo perímetro da ilha, com uma rota em formato de oito, decidiram promover algo que acreditam ser importante: incentivar o cicloturismo enquanto forma de turismo sustentável. Joana Amen e Diogo Tavares, em fevereiro de 2020, quiseram mostrar uma excelente forma de conhecer a Ilha de São Miguel – de forma sustentável, com um mínimo impacto e alternativa ao típico aluguer de carro. Contaram com o importante apoio da Direção Regional do Turismo para fazerem este vídeo, que pretende também mostrar como a “época baixa” é altamente para pedalar! Por adorarem os Açores decidiram ir mais além, contactaram a Direção Regional dos Recursos Florestais, e em conjunto organizaram uma ação de reflorestação de maneira a inspirar, locais e turistas, a protegerem a floresta açoriana, a única floresta certificada de Portugal. Perante o incrível trabalho que encontraram, quiseram transmitir as boas práticas açorianas que podem e devem inspirar políticas continentais menos cuidadosas. Os cerca de 70 guardas florestais de São Miguel contrastam com a ausência destes profissionais em Portugal Continental.

São Miguel Feito Num Oito, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal



Nordeste Burriqueiro

É uma jornada de 4 dias em semi-autonomia a caminhar ao sabor da paisagem transmontana. É uma descoberta de tradições ancestrais das aldeias até aos vales profundos onde vive a natureza mais selvagem. Vamos olhar de perto com quem melhor cuida e protege o património natural da terra, como a AEPGA e a Palombar.

Nordeste Burriqueiro, Trás-os-Montes, Portugal


El Camino del Jaguar

É uma jornada de trekking nos confins da selva tropical guatelmateca, a explorar os complexos arquitetónicos de El Naranjo, Nakum e Yaxha e todo o imaginário clássico da civilização Maia, mergulhados na Reserva da Biosfera e Vida Selvagem. Esta expedição, não só é uma intensa aventura de descoberta como um importante contributo para a preservação da natureza e das comunidades indígenas deste território selvagem.

El Camino del Jaguar, Parque Nacional El Naranjo – Nakum – Yaxha, Guatemala


O turismo regenerativo não é anti-crescimento; simplesmente pede que cultivemos as coisas que são mais importantes para nós de uma forma que beneficie todo o sistema e nunca à custa de outros.” Ana Pollock, fundadora da Conscious.Travel

Não é difícil colecionar irritações com turistas que invadem em massa maravilhas da natureza, dão cabo de ecossistemas frágeis por caminharem de forma negligente, viajam dezenas de kms de carro para tirar uma foto parola para o instagram.

No entanto, o turismo é uma indústria muito expressiva e vital para a economia do nosso país e do mundo. Se as pessoas pararem de viajar, não só as nossas vidas se tornaram mais aborrecidas, como também muitas comunidades vão sofrer por essa falta.

O desafio que deixo é criar condições para que os lugares que exploramos, seja no nosso quintal ou do outro lado do mundo, possam ter a capacidade de se renovarem de forma saudável e criativa, tornando-se num lugar melhor para os que lá pertencem. E, melhor ainda, dar continuidade a esses princípios depois da viagem, para a nossa vida.


 

Este artigo foi produzido para a secção de "OPINIÃO" para a plataforma GREENEFACT em janeiro de 2024


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