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Montanhas Malditas

Uma jornada fronteiriça entre Albânia, Montenegro e Kosovo, percorrendo as florestas e os maciços montanhosos de granito dos Picos dos Balcãs.



dia um

Mirësevini në Shqipëri ou Bem-vindo à Albânia Chegar à Albânia é um flashback a 2018, onde podemos ver a cara das pessoas que esperam, há beijos e abraços das que regressam a casa, essas coisas tão simples, tão humanas. Alexandra, Alice, Ana, Carine, Joana, Cátia, Luísa, Herlander, Sónia e eu, as dez Malditas ao encontro das Montanhas, Malditas. Topamos Tirana at night pela janela da carrinha-transfer, 5 minutos de trote até ao hotel, xixi, cama que amanhã, antes do galo, já estamos na estrada rumo ao norte.



dia dois | Koman, Ferry-aproximação aos Alpes Albaneses


5 da manhã. O hall de entrada do hotel já mexe. Falta um. Ah, Herlander...!!

Mentor é o nosso driver montanheiro kosovar, gajo bem disposto, não foge a partilhar uma curiosidade local ou da vida em geral.

Seguimos pela estrada até ao supé da cadeia montanhosa dos Alpes Albaneses, mais conhecidas como Montanhas Malditas.


Segundo o Mentor, a metáfora da way of life de um albanês está concentrada num túnel para carros que dá acesso ao ferry. Carros, camionetas, pessoas, animais e buzinas a dar forte. É o caos organizado que, sabe-se lá como ou porquê, resolve-se com dois gritos, um sem número de manobras para a frente e para trás e voilá. O carro está no ferry.

Navegamos no lago Koman que segue por um profundo desfiladeiro. Cercados por colinas arborizadas e escarpas a pique, cruzamos as águas cristalinas de um dos lagos mais incríveis dos Balcãs.


A meio do dia, chegamos a Valbonë e damos conta dos maciços pontiagudos de calcário que forram as paredes da montanha. Aproveitamos a tarde para descobrir os recantos da vila, ou simplesmente relaxar ao sol, cerveja na mão, ouvir o som do rio a passar ou as galinhas que, à partida, vão ser o nosso jantar.



dia três | Valbona to Çerem

Distância: 13km (6 horas) | Desnível: 689m positivo


Pouco nublado ou limpo com vento moderado de nordeste pela manhã e possibilidades de borrasca para a tarde, seria o que o saudoso meteorologista Anthímio de Azevedo nos diria para o dia de hoje. Provavelmente com um português mais cuidado, mas não nos safava da chuva. Posto isto, a previsão dá-nos 80% de possibilidade de levar com uma carga de água no passo de montanha mais técnico do dia - not a good idea!! - A rocha granítica com a chuva vira o Slide & Splash em três tempos e chama um figo a uma beiça no chão. Como na montanha não se brinca, o plano B é atacar o vale mais abrigado pela floresta que nos leva à remota aldeia de Çerem.

Com o pequeno almoço no bucho e o lunch package no lombo, abrimos os braços a uma explosão de verde do bosque de coníferas. Atravessamos rios de água cristalina, fria, fria, fria como os cornos, que pica até ao osso.


Where is the fu@#ing track é uma expressão que se faz ouvir nesta secção, é dita por piada, no entanto o trilho foi fechado pelo inverno e por vezes as ervas altas escondem por completo o caminho a seguir.

Algumas catanadas depois, aparece-nos as primeiras casas de Çerem e em menos de um fósforo, somos recebidos pela Bleona e Kujtim, o pai dela. Kujtim é guarda fronteiriço, não fala uma palavra de inglês, mas conversa connosco na língua nativa com a certeza e entusiasmo como se fôssemos todos da terra. Falamenderit!

A primeira vez que vim a Çerem foi há quatro anos. Estava a fazer o loop completo dos Peaks of the Balkans com a minha amiga Jasna, da Eslovénia. Ainda no trilho, aparece o Ernest, um chavalo de 12 anos. Arranhava parcas palavras de inglês, mas o suficiente para nos convencer que a cena dele era a nossa cena. Hoje, 4 anos depois, reencontro o Ernest. Está um puto grande, sorridente e continua a amar a terra. Fomos calorosamente recebidos pela família dele, os Isufaj. Estava um fim de tarde incrível. Havia pão, queijo, mel, e claro, muito raki em cima da mesa. Tudo feito por eles. Brindamos à vida, aos trilhos, ao Ernest, à mãe enfermeira, que ofereceu com uma generosidade desarmante com betadine, luvas, algodão e água oxigenada para tratar ao joelho da Joana e ao avô, que nos acompanha com o sorriso acolhedor de que não está a perceber patavina do que falamos, mas com a certeza de que estamos bem.

Nem uma pinga na testa, f@*a-se...



dia quatro | Çerem to Doberdol

Distância: 16 km (6 horas) | Desnível: 1038 m D+


Choveu a noite toda! Os barulhos da noite formam abafados por água a cair a potes de uma forma quase ininterrupta. Quando o dia acorda, ainda caem umas pingas, mas a casca grossa parece que foi embora. Espera-nos um pequeno almoço à campeão. Tudo o que está na mesa é fresco. Pão, doce, queijo, bolo de noz, leite acabado de sair da vaca e claro, o pouco óbvio, mas omnipresente pepino descascado que teima a aparecer em rodelas a esta hora matutina.

Na mesa ao lado está o lunch package a reforçar a máxima “não esperes variedade, aguenta a consistência”.

Despedimos-nos da família Kujtim com abraços e aquela forma desajeitada de lidar com um adeus. Lamtumire, my friends!


Com Çerem pelas costas, espera-nos uma subida longa pelo bosque profundo por um trilho de mulas onde, noutros tempos, comerciantes de gado, contrabandistas de tabaco e dissidentes do regime partilhavam a jornada até à fronteira com Montenegro. Durante a subida, perto da berma do estradão, sobressai um som felino dos restantes que a floresta produz. A Joana não resiste ao chamamento e, em modo resgate-vou-salvar-este-bicho-fofo-sem-saber-a-mínima-do-que-vou-fazer-a-seguir-com-ele, pega no pequeno gato ao colo e avança em modo mãe adoptiva. Sorte dos diabos, pouco à frente paramos para um café num pequeno estabelecimento e os donos gostaram da ideia de ficar com ele. Enerstina, foi o nome que lhe calhou. Uma espécie de tributo ao nosso amigo Ernesto de Çerem.


Balquin, é uma pequena povoação com meia dúzia de casebres de madeira, que parece pertencer a outro tempo. Chamillia, nao faz cerimónia e chama-nos para perto. Se pegar nas palavras da Cátia, o cenário é emocionante, um epifania-maker, digo eu a improvisar palavras para o descrever. Chamillia serve-nos uma sopa de babar, o pão foi acabado de fazer e roça o maravilhoso. O raki, ao contrário de ontem, é forte, feio e mau. A custo, foi todo de enfiada com brindes, gargalhadas e satisfação de quem teve uma farta refeição.


Seguindo os cursos de água que se atiram montanha abaixo, descemos o vale de Gashi, património nacional de Montenegro, num passo tranquilo, para poupar as cruzes e umas botas que já vão moendo os pés.

Encaixada num imenso vale glaciar, e habitada exclusivamente no verão por pastores semi-nómadas, a vale de Dobërdol é uma dos mais isolados da região. É esse o cenário que nos chega à retina. Grandioso.

Espera-nos a travessia do rio como último desafio que, para quem não domina o saltitar de pedra em pedra vai pôr a pata na poça.

Bylbyl, o nosso host habitual, anda pelo a cidade e quem nos recebe com um sorriso honesto é Daniela, a irmã de 18 anos.

Como manda a tradição, põe queijo kajmak, põe tomate, põe pepino (claro!!), cerveja da terra e estamos em casa.



dia cinco | Doberdol to Bibino Polje

Distância: 16 km (6 horas) | Desnível: 1038 m D+


Espera-nos um dia exigente, mas o docinho que vais trincar lá em cima consta ser proporcional ao esforço. Já lá vamos.

O dia começa sereno, sem a chuva que se gastou durante a noite. Dizemos adeus à família Vatnika com longos abraços de carinho pela hospitalidade e comida maravilhosa.

Seguimos por um trilho cabreiro, encontramos pastores e avistamos os rebanhos que pontuam os verdes prados alpinos. À medida que nos afastamos da planície glaciar, os terrenos planos dão lugar a íngremes encostas. Sem pressas, em passos curtos, o batimento cardíaco acelera tão a pique como o terreno em direção à cumeada.

É aqui que o coração pára. Dobërdol é uma aldeia encaixada num imenso vale glaciar de pastores semi-nómadas, que parece ter parado no tempo. Ali em baixo, é como se tivéssemos recuado 100 anos no tempo.

Respira.


Depois do passo de montanha, largamos as mochilas e atacamos o cume do Tromenda (2365m), o simbólico pico onde cruza as três fronteiras. Albânia, Kosovo e Montenegro.

No topo, somos brindados com uma paisagem incrível: no horizonte, desenham-se os vales glaciares albaneses, as florestas alpinas de Montenegro e a majestosa Maja Ropës (2501m), uma das mais altas montanhas do Kosovo.

Neste território ainda se encontram vestígios da antiga Jugoslávia, como o granizo farto que resolveu cair no lombo. A passada do grupo ganhou speed.

Os pastores mais humildes não se podem dar ao luxo de alugar os prados relvados perto das aldeias, optando pelas paredes íngremes do alto das montanhas. Nesta 'terra de ninguém', cresce um alimento de luxo para as ovelhas, vacas e cabras - seria grátis, não fosse o enorme esforço necessário para lá chegar.

Daqui para a frente o dia é SEMPRE A DESCER!!


Apontamos a bússola para nordeste, em direção ao lago Hridsko. Escondido numa imensa floresta rodeado por rugosas formações rochosas, o Hridsko é um dos mais altos lagos glaciares de Montenegro. Reza a lenda que a pureza do lago é tal que as ninfas da montanha se banham regularmente nestas águas. Eu vi duas! E, nesse dia ainda não tinha tocado no raki.

Revigorados, tomamos um longo trilho, que desce floresta dentro, pelo verde profundo das árvores coníferas na esperança que a mosquitada feroz nos deixe alguma pele sem marcas. Venha a chuva para afastar o bicho. E veio!


É no coração da floresta de Babino Polje que vive um bom gigante. Enko, o rei mestre das fotos de drone, o homem-sete-sopas-só-para-fazer-uma-caminha, o único gajo que não me chama “Diego” em Montenegro, é quem nos recebe de braços abertos e gargalhada sonoro, seguida de um WELCOME com sotaque dos Balkans.



dia seis | da floresta densa às cristas de Montenegro

Distância: 16 km (6 horas) | 1038m D+


Vamos lá falar um pouco do projecto onde estamos a pisar as botas. Peaks of the Balkans é um trilho mapeada em 2012 por uma organização que se inspirou no trabalho do projecto 'Balkans Peace Park’, cooperação entre os três países: Albânia, Kosovo e Montenegro.

O objectivo é incentivar os visitantes dessas regiões, a desfrutar da cultura e da hospitalidade lendárias deste território esquecido pelo mundo e, por meio disso, ajudar a redefinir a compreensão dos Balcãs como um lugar com mais a oferecer do que uma região de conflito.

Depois do pequeno almoço atómico que nos prepararam, Enko, o Photo Drone Man, já nos espera para um transfer estratégico: saltar umas dezenas de kms de estradão para lá de Plav, a cidade do maior lago glacial dos Bálcãs, em Montenegro. Como era feriado nacional nem um shot de cafeína deu para enfiar na goela. Mergulhamos no coração do Parque Nacional Prokletije com o fee simbólico de 1€ por pessoa, no sentido de apoiar a protecção e manutenção.


O parque abrange a maior parte das montanhas Prokletije, que formam a fronteira natural entre o Montenegro e a Albânia, Alpes Albaneses para alguns, Montanhas Malditas para nós. Despedido-nos do Bom Gigante com abraços, beijos e malabarismo humano. Até breve Enko!
Em menos de um nada entramos nas profundezas da floresta O relevo é irregular, com numerosos picos, gargantas, encostas íngremes, lagos glaciais, riachos, nascentes e poços de água mineral, aquíferos subterrâneos que nos deixam surpreender em cada curva.
Para subir a parada espera-nos a picadinha do dia: uma crista a pique que nos testa o pulmão, as pernas e a mente. O grupo tem estado com um espírito incrível e, em passos curtos, seguros e sem pressas, o desafio é superado. O caneco da resiliência hoje foi para a brava Alice que fez um shortcut criativo para ter AINDA melhor vista para o vale. Valeu-lhe 2 toneladas de adrenalina extra e 200 gramas de terra por dentro das unhas de tanto esgravatar. A recompensa é levar com Zla Kolata na pinha, o pico mais alto do Montenegro num dos planaltos mais cénicos de toda a viagem. Bom spot para almoçar!


Agora que os pepinos acabaram, sobra-nos o combate à moleza pós-repasto e as palavras mágicas:
É SEMPRE, SEMPRE A DESCER!!!

À nossa volta os picos verticais perfuram o céu, os rebanhos de cabras vagam livremente pelos pastos e o trilho estreito mostra-nos a direcção para o vale de Vusanje.
Historicamente, toda esta região tem sido um caldeirão de etnias e Montenegro, apesar de sua pequena população e área, ainda é um lugar de incrível diversidade; um lugar onde dizem que se pode nadar de manhã e esquiar à tarde, e comer frutos do mar do Adriático ou cordeiro das montanhas, tudo isso imerso em uma variedade de tradições culturais que ainda estão misturadas em todo o país.
Por falar nisso, o que é o jantar?



dia sete | Vusanje to Theth

Distância: 16 km (6 horas) | Desnível: 1038 m


Prokletje, Bjeshkёt e Namuna, Alpet e Shqipёtare são nomes de montanhas que, quem ouse proferir, ou dá um nó na língua ou tem uma caimbrã na falange. Estes monumentos escarpados vão fazer a nossa sombra na jornada que se segue. Hoje o sol promete morder, por isso toda a sombra é bem-vinda.

Partindo da pequena aldeia de Vusanje, seguimos um trilho que nos leva pelo vale de Ropojana sem grandes oscilações no terreno, perfeito para aquecer os cardados.

Ainda o suor não tinha chegado à patilha, já estávamos a abrir a boca que mistura a moleza da manhã com o deslumbramento da cor da água do blue eye. Por momentos parece que o Photoshop entrou na tua cabeça e estás a mexer nos níveis de saturação.

Não, meus meninos! Aquele azul explosão é mesmo assim, descansem.


Depois de uma bojarda de azul pela vista, mantemos o discernimento, o fôlego e o ritmo pelo vale acima num trote tranquilo, como se o sol na pinha não fosse nada connosco.

O trilho é rodeado por grandes prados e, perto dos pinheiros, podemos facilmente encontrar morangos silvestres. São deliciosos! Ainda a lamber as beiças, temos à nossa direita os majestosos Picos Karanfili. À nossa esquerda, outros picos altos que não faço ideia de como se chamam.

Curiosamente, o lago Gjeshtarës está excepcionalmente cheio de água. Apesar de estarmos no início de julho, já deveria estar seco e o trilho a passar pelo meio, como fez o Moisés. Havendo água é, sem dúvida, um bom timing para um mergulho!

É a pingar das madeixas que nos despedimos de Montenegro, com mais um marco fronteiriço que nos separa da Albânia.

Olá novamente, Albânia!


De coração cheio, derrapamos para a vertigem do vale de Theth . É lindo, dramático, íngreme e nunca mais acaba, cacete! Encontramos muitos caminhantes vindos do fundo. Várias nacionalidades, homens, mulheres, magros, gordos, com uma só coisa em comum: não podem com a gata pelo rabo! É uma picadinha 3.0. Depois de todos esses dias numa tranquilidade sem ver vivalma, estranhamos encontrar tantas pessoas.

Theth está lá em baixo à nossa espera, depois de dezenas de ziguezagues, olhamos para as nossas costas e parece impossível termos descido aquela parede vertiginosa.

Os pés moídos, as pernas cansadas e a cabeça só pensa numa cerveja gelada. Bora, Peja! A jola fresca e linda da terra.

Gazua!!



dia oito | Theth to Valbona

Distância: 16 km (6 horas) | Desnível: 1038 m


Depois de cinco dias a trepar montanha, os corpos moídos ganham resistência ao esforço quotidiano e o corpo começa a aceitar a coça. Hoje vamos fechar o círculo, o trilho de Theth até Valbona. Historicamente é um trilho de mulas, uma paisagem selvagem de picos recortados, vales profundos e encostas arborizadas, a rota liga duas aldeias, Theth e Valbona, que são as portas de entrada para os Parques Nacionais com o mesmo nome.
Até recentemente, as montanhas escarpadas, as cidades históricas Patrimônio Mundial da UNESCO da Albânia eram apenas rumores misteriosos na maioria dos roteiros de viagens. Mas, após a dissolução de seu brutal regime comunista em 1991, este pequeno país dos Balcãs abriu as portadas para o mundo. E agora, um quarto de século depois de se livrar dos terríveis fantasmas do passado, os segredos da Albânia estão à nossa espera.
O briefing é simples: 3/4 horas a subir à bruta até ao Valbona Pass, seguido de 3 horas a descer à bruta.



Depois das primeiras horas por entre florestas de coníferas, grupos de caminhantes e alguns albaneses a cavalos, paramos no café do Zefi, o primeiro pit-stop e um guilty pleasure: Tarte Flija, uma delícia salty-doce em camadas, importada do vizinho Kosovo.
três segundinhos para limpar a baba. A mexer!
Em pouco menos de uma hora estamos a dobrar o passo Valbona (1792m), onde os Alpes Albaneses e do Vale de Valbona ganham uma dimensão épica. 
A densidade populacional nesta zona é alta e, para uma selfie porreira, tens que tirar senha como na padaria.


Respira fundo, põe os ailerons, que agora é a descer! Até ao café do Simoni. Hora de carregar baterias, pôr os calcantes de molho a 7ºC, na água da ribeira e carrega com o guilty pleasure parte dois: Sheep yogurt with honey, assim em francês para não haver dúvidas. Tudo delicioso e proveniente da montanha. Faleminderit, Simoni.

Depois do farnel, descemos para o vale que liga as regiões tribais de Shala e Nikaj: Cenas antigas lá deles.


Com sorte, em dias limpos os picos recortados de Bjeshket e Namuna rebentam no horizonte - as Montanhas Malditas. É este o cenário que nos faz escorregar tranquilamente pelo vale até à aldeia de Valbona.
Hoje há truta no forno do rio Valbona, cerveja em barda e copos ao alto para brindar à amizade, ao lanches de pepino e às Montanhas Malditas.



dia nove | Valbona to Tirana


Acordar em Valbona transporta-nos para o longínqua eternidade de há 7 dias. Ou, como dizia um bom amigo, – Já nos conhecemos há mais de 100 km, quando a roupa cheirava a lavanda, as palmas dos pés imaculadas, os bastões por estrear e as Malditas indomáveis por conquistar.

Hoje, com um sol bom a bater na cara, olhamos para trás com aquele sorriso de quem tem a barriga cheia de montanha, muita história para contar e uma boa mão cheia de amigos no coração.

É hora de dar o baza, baza.


São 8am e o nosso amigo Mentor, el driver, já está à nossa espera. Espera-nos umas horas valentes a rolar nas estradas do Kosovo e da Albânia, até novamente à cidade de Tirana.

Mentor não só é um tipo fixe, como um anfitrião do caraças. Deu-nos uma ensaboadela de cultura Kosovar, fez paralelos com a Montenegrina e Albanesa, pontes com a história, a cultura e porrada aos molhos com outros países, onde as feridas ainda são profundas. Já dizia Winston Churchill “Os Balcãs produzem mais história do que podem consumir”. É esse o fardo que esta boa gente tem que viver o presente e o futuro.

A viagem passou como um diabo esfrega um olho e deu-nos uma perspectiva mais ampla deste território complexo, carregado de singularidades.


Tirana chama por nós, mas nós gritamos por um Tavë Kosi para lambuzar com Byrek. Devíamos fazer disto um hino, enquanto a cerveja escorrega pela goela. Aahhhh até me babo!

Com aquela sentimento de que merecemos tudo o que nos dão de comer. Redondos e bem bebidos, saímos para a rua na leve esperança de laurear a pevide até não doer mais. Nada que um raki ou três não cure.

À Alice, Alexandra, Ana, Cátia, Herlander, Sónia, Carine, Luísa e Joana, um obrigado tamanho de uma montanha.

Até breve Malditas 💚



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