O país mais diverso da América Central cativa pelas paisagens extraordinárias e uma cultura que abrange toda a civilização que remonta a séculos.
Terra dos Maias.
dia um
ATERRAR, É SEMPRE UM DESAFIO
É certinho como o destino. As viagens para o outro lado são sempre uma tareia. Ou são escalas a morder ou ficas horas intermináveis a dobrar a espinha a beber café merdoso e inflacionado num Starbucks da vida. Voar não é viajar. É só chegar. A viagem começa depois.
Guatemala!
Estou levezinho, sem mala de porão. Por isso o processo “baza daqui” foi uma limpeza. O Pablo estava à minha espera lá fora. Pablo, El Fixer. Um puto fixe, sem muitas conversas, mas prestável e com vontade de trabalhar. Foram 2 anos a passar as passinhas do Algarve.
Os espanhóis deixaram pegadas em barda quando colonizaram a Guatemala, sendo a mais visível a arquitetura. Os mais emblemáticos estão espalhados ao redor de Antígua, a antiga capital, com suas praças elegantes e ruínas em ruínas. Dos edifícios grandiosos do boom do café de Quetzaltenango, à imponente catedral da Cidade da Guatemala, às igrejas e edifícios municipais agrupados em torno de praças centrais mesmo nos pueblos mais pequenos, a Guatemala carrega as marcas de sua ocupação europeia em tijolos e ladrilhos a explodir de cor.
Sem turismo, uma pandemia, umas das economias mais débeis da América Central. Uma merda… A noite já vai longa e os 40km que no levam até Antigua estão um deserto. É sempre a dar até ao hotel!
Quando vir uma cama nem acredito.
dia dois
A LOUCA VIAGEM ATÉ ATITLÁN
Com o jet-lag no lombo, estava mais que visto que ia acordar antes do sol. Muito a tempo, num telhado de Antigua, dou de caras com os vulcões Agua, Acatenango e o temperamental Fuego. Fuego, que maravilha🔥!!
Mandamo-nos para a estrada à moda Chicken Bus. É a Guatemala concentrada naquela lata. Famílias indígenas, deste bebés a almoçar no peito da mãe ao velho cheio de sacas que mora no pueblo que se segue, é uma algazarra fervilhante de entra e sai. Em menos de um nada, está um puto ao nosso colo. O trânsito é um caos. Há estradas cortadas por causa de protestos de mineiros descontentes e isso leva o motorista a manobras criativas. Nestas paragens, isso implica um upa upa no risco de vida. Short cut: Barranco!!!
Por uma unha não derrapámos à kamikaze um precipício para lá dos 50m. Passou em bem, mas não evitou duas taquicardias e umas pinguinhas que saem sem avisar.
Uma catreifada de horas depois chegamos a Panajachel, de frente para o Lago Atitlán.
Numa bacia de origem vulcânica, formada por uma erupção de há 84.000 anos atrás, Atitlán é conhecido como um dos lagos mais bonitos do mundo.
Estou longe de estar apto para confirmar essa ideia, mas vai directo para o meu top5.
Dali, apanhamos uma lancha para Santa Cruz La Laguna, onde vamos passar as próximas noites, para já já, engolir sem contemplações o almoço mais desejado.
De bucho cheio, temos o primeiro contacto com a etnia Kaqchikel Maia e dão-nos a entender o poder do trabalho em comunidade.
O dia chega ao fim no conforto do hostel que nos dá cama e jantar, com vista para Atitlán, nome de lago e vulcão, embalados por uma jam session peronponpero.
dia três
ATITLÁN E TODOS OS SANTOS
Santa Cruz, San Pedro, San Juan, San Marcus, San Pablo e não sei quantos mais, são os pueblos que resistem nas bordas do Lago Atlítan.
Aqui acorda-se cedo para ver o vulcão acordar antes do sol, para ir à pesca, para levar os cultivos para vender no mercado. Caixas e sacas enchem os barcos táxi que os levam a eles e a nós, até outro santinho. O Pedro.
O café Cristalinas é 100% puro! Merece um shot duplo de cafeína. Só faltou ir apanhar as bagas à terra para dar conta de todo o processo. Amargo, como gosto, rústico, como se quer. Um prazer!
De olhos mais abertos caminhamos ao mercado para sentir o sabor das frutas maradas da Guatemala tropical.
Carambola, Guanabana, Granadilla, Nance, Rambutan, Jocote, Nispero, Zapote Mamey, Chico Zapote, Caimito, Jocote de Marañon, Paternas, Annona, Pitaya e Piñuela.
Não, não é o plantel do Malacateco, são fruta boa da babar e ir à lua.
Nem todas são nativas da terra, o que dá início a um interessante role de questões que vão desde agricultura intensiva, família até política e globalização.
Em modo racing tuk-tuk voamos de S. Pedro até San Juan para absorver o trabalho de pintores, tecedeiras e tinturarias naturais, a arte de produzir o cacau, são a prova viva da cultura Maia expressa por quem lá vive.
Mais uma chapa, mais uma volta. Com a brisa na cara, seguimos de lancha até a San Marcus, onde o sol se põe, onde se come bem ao som de uma salsa tranquila de voz viva.
VADE RETRO REAGATON!!
dia quatro
ATITLÁN PARA ANTIGUA, COMO QUEM DÁ UM SALTO A CASA, TOMA UM BANHO, MUDA DE ROUPA E SEGUE CAMINHO.
5 da manhã!
Mais cedo que ontem, ainda mais bonito. O azul é mais profundo e um pescador a boiar num barco aparece recortado no horizonte enquanto prepara as redes de pesca.Paz do caraças!
Esta manhã é para andar ao relanti, sem pressas. Curtir o mood da paisagem, explorar a geografia e dar um mergulho ou sete. Os trilhos são bonitos e a água morna do lago chama por nós.
Durante séculos, rezou uma lenda de que havia uma cidade submersa no meio do lago, com um tesouro valioso escondido. E em 1996, uma aldeia Maia conhecida como Samabaj foi realmente descoberta no lago. Construída numa ilha, afundou na água, possivelmente devido a uma erupção vulcânica. Agora o tesouro, podem continuar a dar forte na apneia que ainda ninguém deu com ele.
A meio da manhã regressamos de barco a Panajachel. Pana, para os amigos.
A ideia é regressar a Antigua para carregar energias, comer à patrão e sentir uma vez mais o pulso desta cidade cheia de história.
Antigua foi fundada no século XVI e, durante mais de 200 anos, a sede do Governo do Império Espanhol da Colónia da Guatemala, região que incluía quase toda a América Central e parte do México. Encaixada entre três vulcões, Água, Fuego e Acatenango. Antigua é Património Mundial pela Unesco desde 1979.
Mas bonito, bonito é saber o que há para jantar, com uma Gallo a empurrar.
dia cinco
PREQUELA DO ACATENANGO CHAMA-SE PACAYA
O vulcão Pacaya da Guatemala está em erupção. Despeja sem grande cerimónia, rios de lava e nuvens de cinzas, mantendo as comunidades locais e as autoridades com os tintins apertados. Metaforicamente falando, claro!Depois de estar adormecido por mais de 70 anos, o Pacaya entrou em erupção vigorosamente em 1961 e tem dado o ar da sua graça com frequência desde então.
Mas para o David, um contabilista de 34 anos, a lava a escorrer pela encosta da montanha tornou-se uma oportunidade. David, o entrepreneur vulcânico, faz "Pizza Pacaya" no forno na rocha vulcânica fumegante.
E, em 2019, a Pacaya tornou-se a primeira pizzaria do país, quiçá do planeta, a usar buracos de lava como forno.
O fundador, chef, contabilista e pau para toda a obra da Pizza Pacaya, Mario David García Mansilla, ficou fascinado com o Pacaya em 2010, quando o vulcão explodiu de forma espetacular, lançando pedras em chamas vermelhas sobre os telhados de San Vicente Pacaya e vilas próximas. Não foi bonito para a comunidade, pois deu muita estragadeira! Mas a natureza é assim. Bela, generosa e cruel, sem moralidade. As cinzas chegaram ao Aeroporto Internacional da Guatemala, La Aurora, e os voos foram suspensos por um dia. Em vez de fugir, David decidiu ficar perto da poderosa montanha, maravilhado.
O David subia regularmente até o topo do vulcão carregando cerca de 27 quilos de ingredientes e equipamentos nas costas. Agora, com o negócio a correr bem, o pequeno burguês, solicita os costaços dos putos da terra para lhe trazer os mantimentos. Assim, está mais focado na sua arte e salva-se de peso nas cruzes.
Salame, pepperoni, chouriço, presunto, vegetais (poucos!!!) e o mais importante, vários camadões de queijo em barda. Ele monta a pizza com a potência dos 1000° C de lava a dar fogo à peça, em 7 minutos está pronto a servir.
Até babas!
ACATENANGO, ATÉ SENTIR O FOGO DO FUEGO
Acatenango de Antigua. De longe é só mais um triângulo bem desenhado, como as montanhas que fazíamos a lápis, quando éramos putos. Ao perto, é um colosso
que se eleva aos 3976 m, o terceiro vulcão mais alto da Guatemala.
Este menino foi criado quando a Placa Cocos (Oceânica) colidiu com a Placa Caribenha (Continental), sendo forçada para baixo dela. Níveis insanos de calor, pressão e fricção derreteram a rocha, forçando a lava à superfície para formar o Arco Vulcânico da América Central. Voilá!
Sem mais demoras, depois de um almoço reforçado na casa da família do Catalino, o nosso guia e amigo local.
Arrancamos por um trilho íngreme através dos campos agrícolas - a mesma trilha usada pela comunidade local todas as manhãs para ter acesso aos campos de milho, ervilha e lírios. Ainda não fizemos a primeira hora de caminhada e já estamos a suar do bigode, a aclimatar e a turbinar os músculos das pernas. Poucos sabem o que nos espera.
Mergulhamos de cabeça por uma antiga floresta tropical nublada. Nesta microclima mágico, encontramos algumas das árvores mais antigas de Acatenango, incrível biodiversidade de flora e fauna, o ar puro da montanha e os sons dos pássaros e animais selvagens da floresta. Este tipo de “Tropical Cloud Forest” é o lar do famoso Quetzal, símbolo nacional da Guatemala. Quando a cabeça sobe acima das núvens, deparamos com as terras altas e os cumes dos outros magníficos: Atitlan, Toliman, San Pedro, Santa Maria, Santo Tomas, Tajamulco, juntamente com a cordilheira Cuchumatanes. Isto se o tempo tiver bom. Caso contrário, nem um boi.
Pouco mais à frente, com a passada própria de quem já vai para lá dos 3000m, contornamos a vegetação e deparamos com o incrível Fuego a vomitar lava como se o planeta tivesse comido uma coisa estragada. Ali sente-se a terra viva! Uma energia incalculável e uma beleza difícil de explicar.O nosso acampamento está situado logo abaixo da linha de árvores fustigada pelas tempestades do vulcão. Com vistas de cair a queixada do vale de Antigua e do explosivo Vulcão Fuego.
As tendas montadas, a tralha longe das costas e o calor da fogueira a chamar por nós, são a sequência perfeita para esticar o pernil, aquecer os pés no fogo, o palato com café negro e a vista com o Fuego a barafustar.
Dia lindo, fuego!
dia seis
ACATENANGO, À MALUCA ATÉ LÁ A BAIXO
Segundo relatos de alguns sobreviventes, durante a noite, o Fuego partiu a loiça toda. Explosões bem ritmadas e, a dada altura, espatifou os céus com uma bojarda espectacular. Curtia à brava ter visto a cena, mas dormia que nem um calhau. Precisava de subir aos 3500m e acampar mesmo mesmo à beira de um dos vulcões mais activos do planeta, para dormir à patrão. Quem nunca…?
Por volta das 3:30am salto cá fora e está uma borrasca hardcore. O vento assobia forte e não se vê uma nesga. A ideia seria fazer o summit do Acatenango, aos 3976m e topar dali o sol a nascer. Azarete! Quem manda aqui é a natureza e a senhora diz que ninguém vai ver ponta! Chuva, frio pa cacete e rajadas que dói. Volta e meia ouvíamos o Fuego a explodir, mas nada indicava que às condições melhorassem. Vá, cama!!
Umas horas depois, acordo novamente. O nevoeiro ainda canta, mas o vento abrandou. Volta e meia, o Fuego diz olá.
Está na hora de descer!
Mergulhamos novamente na floresta nebulosa, à mercê da benevolência da Mão do Diabo. Pentadáctilo de quirantodendro, para os amigos, espécie é nativa da Guatemala e do sul do México. Os antigos maias e astecas usaram as flores da árvore como remédio para dores no baixo ventre e para problemas cardíacos! (Hoje em dia também serve para pêlo encravado, problemas económicos e mau olhado. Chupa, professor Mamadu!)
De volta ao frenesim da antiga capital colonial espanhola, Antigua, concentro as energias que restam a estrelhaçar com estilo meia dúzia de tacos Al pastor, canasta, cazo, lengua, cabeza, pescado, asada, carnitas, enfim. Uma orgia de sabores com boost habanero que só uma Gallo consegue apagar.
dia sete
ATÉ SEMUC, COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ
Espera-nos uma tareia a rolar no alcatrão. São mais de 350km a atravessar o coração da Guatemala de Antigua até a Lanquín, com a variável “what a fuck is going to happen in the middle”. Desde estradas bloqueadas por trabalhadores em protesto, cruzar cidades caóticas, a landslides, passado pela pacatez de uma avaria no nosso transporte, são tudo o salero da América Central. Nove horas são o mínimo para olímpicos, ragaton a bombar nas orelhas, vergonha alheia provocado pelo teu próprio grupo de azeiteiros a cantarem música merdosa portuguesa (perdão, popular…) e a possibilidade de te calhar um puto indígena no colo roça os 95%. É ou não é uma viagem de sonho?
No entanto, olhas pela janela e o cenário é magnífico. O ondulado das florestas tropicais perdem-se no horizonte, com um verde multiplicado por mil. Se ainda tiveres vivo, dás com Lanquín, uma pequena cidade indígena perdida no Planalto Central da Guatemala, em Alta Verapaz.
A população de San Agustín Lanquín foi uma das tribos conquistadas por um grupo de frades espanhóis, fundada em 1540.
Pelas particularidades naturais de Semuc Champey, foi declarado Parque Nacional em 1956.
Para acabar em beleza, transladamos os nossos corpos moídos da viagem em chicken bus para a bandalheira bus, pela noite dentro, até ao ecolodge. Quantos gringos cabem num Landrover caixa-aberta? Mais que as mães é a resposta mais segura! Btw, temos seguro?
Deixa-te de merdas, anda lá!
dia oito
SEMUC CHAMPEY
Acordamos mergulhados nas profundezas da selva guatemalteca do Parque Nacional Semuc Champey, o nome indígena que significa “onde o rio se esconde debaixo das pedras”. Bastante literal, como se fazia antigamente.
Estas montanhas são formadas por pedras calcárias que, sabe-se lá bem como e porquê, foram caindo lá de cima e criaram uma ponte natural de 350 metros sobre o rio Cahabón, corazón.
Depois de uma explicação farta em rigor cientifico, estamos prontos para engolir um pequeno-almoço que daria um chapéu ao das telenovelas da tvi. Engordas-me, bela Guate.
É cercados por penhascos íngremes e uma vegetação densa de selva subtropical que começamos a galgar escadas em barda. São cerca de 30 minutos a dar forte nas pernas até chegar ao el mirador. Lá em baixo, piscinas azul turquesa com cascatas por todo o lado, cercadas por um desfiladeiro vertiginoso de selva exuberante invade-nos a vista. Foda-se, é incrível.Teria um latim do Bocage bem vasto para descrever esta maravilha, mas prefiro descer à bruta para dar um mergulho naquele azul. Dá-me ideia que vou ficar por lá a boiar umas horinhas.
Cerca de um quilômetro e picos para lá de Semuc, logo a seguir à ponte amarela que cruza o rio, viramos pela esquerda e a Caverna Kan'Ba está ali para nos dar festa. O mítico Goonies dos 80’ veio logo à cabeça, mas faltava aquele feioso que levou com uma porta na cara demasiadas vezes. Passagens apertadas na pedra, escalar rochas com água quase até ao pescoço, atravessar escadas de corda e mergulhar em buracos negros para o vazio, tudo à luz de uma vela. Ver a ponta de um corninho era o mais habitual, pois como a água era um fartote, a vela estava sempre a apagar. Houve gritinhos de entusiasmo, cagufa, pinguinhas várias taquicardias, pela certa. Acabamos vivos e de sorriso feito!
A tarde esperava-se pacífica com piadinhas de kamikaze voador. A hora estava mesmo a pedir parvoíces. Boleia de um baloiço directo para o rio com voos para-olímpicos e depois de algumas aterragens de beiças, saltar para cima de uma câmara de ar de um camião e deixar que o rio Cahabón nos leve. Se há dia bom para o mundo acabar, pode ser hoje!
dia nove
SEMUC ATÉ RIO DULCE, PELAS ESTRADAS MAIS BONITAS DO MUNDO
Com Semuc pelas costas e o estômago forrado a frijoles, atiramos-nos para a estrada em direção a Rio Dulce, no território carinho de Izabal. Para lá chegar não é pera doce. As estradas são sinuosas, empinadas, apinhadas em trânsito e, para compensar, cercadas pelo verde imenso que teima em acompanhar os dois lados da estrada. Que venha, pois há 10 a 12 horas de tareia exótica pela frente.Ao longo do caminho, a paisagem muda de florestas tropicais secas para temperadas, até chegarmos a umas das regiões mais selvagens e exóticas da Guatemala.O Parque Nacional Río Dulce é uma área que protege o ecossistema guatemalteco desde 1955 e é a porta de entrada para o Mar do Caribe.Chegamos ao início da noite, já com o sol para lá de Namek.
Depois da coça de autocarro, apanhamos uma lancha-taxi que nos refresca o cara enquanto muda o penteado.Não passaram 15 minutos e estava uma espécie de milagre selvagem em forma de refúgio perfeito. Um hino à sustentabilidade As cabanas de telhado de palha vão ser o poiso para as próximas duas noites.
Mas antes de aterrar, ainda há espaço e motivação para uma Margarita.
Ou três!
dia dez
LIVINGSTON, POR ONDE O JACK SPARROW PERDEU AS BOTAS
Pela fresquinha, atiro-me para dentro de água com um SUP. Mais depressa viam-me num kayak ou, melhor ainda, num Cayuco, a canoa local utilizada pelos indígenas. Mas era o que havia e não me queixei.Com meia dúzia de remadas entrei por um ramal estreito a que ele chamam rio San Marcos. A vegetação adensa e os macacos bugio (ou uivadores) parecem mais perto. Tão perto que só preciso levantar a cabeça para ver uma valente ninhada deles. Há sempre dois ou três mais conversadores, os alpha. Em tradução pouco rigorosa, no entanto realista, devem estar a uivar um “piss off gringo!”, com a gentileza habitual de um primata. De coração aquecido, sigo a boiar pelas entranhas da floresta tropical cruzando-me com pequenas comunidades maias a lidar com a vida simples da selva. Os putos parecem pequenos Moglis. Que cena linda! O Rio Dulce é um grande rio azul-esverdeado que flui da Guatemala para o oceano. Agora, dentro de uma lancha rápida, atravessamos o maior lago da Guatemala, que se conecta ao Golfo das Honduras e mar do Caribe por um desfiladeiro selvagem. Põe selvagem em bold! Ao longo do caminho, a paisagem muda de florestas tropicais secas para temperadas, até chegarmos a umas das regiões mais selvagens (estou a repetir de propósito) e exóticas da Guatemala. A última parte, antes de chegar à costa caribenha, forrada por paredes íngremes e rochosas com vegetação tropical mais densa que a pele de um peixe-porco. Vê-se muitos barcos e canoas com pescadores locais a descarregar as grandes redes de pesca, no lufa-lufa da calmaria do Dulce.
Caribe, estou pronto!
Ao chegar ao Porto de Livingston, somos recebidos por centenas de pelicanos no dolce far niente nos barcos abandonados. Muito apropriado, digamos!
Livingston só tem acesso por barco. É uma pequena vila de pescadores e muito à parte do resto do país. Há uma forte influência afro-caribenha aqui, o que o torna muito único. A ascendência da maioria dos 18 000 habitantes de Livingston pode ser rastreada até escravos africanos naufragados na ilha de São Vicente, no século XVII, que originou uma população mista, de caribenhos africanos e indígenas. A cultura Garifuna é uma mistura única de idioma, religião, comida, música e costumes não replicados em nenhum lugar do mundo. Como comer também é viver, experimentamos o pitéu Garifuna! Tapado. é uma deliciosa sopa com leite de coco e todos os tipos de peixes, incluindo caranguejo, camarão e peixe do rio. Com uma Gallo a empurrar, soube-me pela vidinha. Na volta damos um check ao forte Castillo de San Felipe de Lara, construído para impedir que os piratas vindos do Caribe (sim, os piratas das caraíbas) entrassem no lago e atacassem as comunidades. A forte teve períodos bastante produtivos, o que provocou uma catreifada de navios afundados antigos nas proximidades. A zona é também o habitat natural de várias espécies, incluindo o peixe-boi (uma espécie de morsa- feia), a onça-pintada, o macaco-aranha, tucanos em barda e o macaco bugio (os reis do chiqueiro ouvidor).
dia onze
SINUOSOS SÃO OS CAMINHOS ATÉ EL REMATE
Deixamos para trás todas as maravilhas do Caribe. Mais uma viagem de bote que nos muda o penteado. Adiós Adán, El Capitan! O timoneiro que nos acompanhou nas gincanas fluviais despede-se com um sorriso. Hasta luego, amigo!
Com a ginga de um guatemalteco, saltamos para dentro do chicken bus rumo a norte da Guatemala, Petén. Não empenes, malandro!! (dizemos todos em pensamento…)
El Remate, é uma trivela de paraíso sacado do Platoon do Oliver Stone, num dia bom. Sem napalmes nem o Elias a levar balázios em barda dos vietcongs. Tal e qual! Mas antes de lhe pôr a vista em cima ainda vamos comer com 6 horas valentes de alcatrão sinuoso e esburacado. São as vicissitudes da viagem. O caminho nunca é o mais fácil e raramente o mais rápido. No entanto, será sempre, sempre, sempre o mais bonito. Diz o Charlie Sheen em voz off, no helicóptero. Já de noite, chegamos a El Remate, nas margens do lago PeténItza, a porta de entrada da Guatemala para Tikal - uma das maiores cidades do mundo maia.
O que é que se manja, Pablito que és bonito?
dia doze
TIKAL, O MUNDO PERDIDO MAIA
Guatemala é para madrugadores. O lago Petém ainda está a dormir coberto de uma camada de cacimba. Como o sol ainda vai demorar a chegar, salto para o banho para abrir a pestana, tirar remelas e acordar os sentidos. Tudo por uma ordem aleatória, sem pressa nem interesse em ser bem sucedido. Enquanto bóio mas águas de Petém ponho-me a pensar se é este que tem crocodilos. Não me lembro…
Estamos em El Remate, Guatemala, ao sul de Tikal, uma das maiores cidades do mundo maia clássico. Tikal!! É um nome tão forte e carregado de simbolismo como toda a quantidade de calhau que dá forma ao mais notável Patrimônio Mundial da UNESCO que a Guatemala abriga.
Escondida nas profundezas da floresta tropical do norte da Guatemala, Tikal foi uma das maiores cidades da civilização maia. Habitado por volta de 600 a.C. a 900 d.C., estima-se que cerca de 100.000 nativos vagueavam por aqui. A selva ao redor, parte de um parque nacional, abriga o jaguar, o puma e mais de 300 espécies de aves. Umas mais raras que outras, mas todas de cores explosão. Rúben é o nosso guia local da etnia Itzá. Com ele vamos explorar uma mão cheia de templos, palácios residenciais, túmulos, altares e estelas que se exibem gloriosamente diante dos nossos olhos. A cidade é colossal e gigantesca, apenas com uma pequena percentagem escavada da selva que a engole. A certa altura encosta-mo-nos a uma pedra para ver o pôr do sol e a noite chegar, enquanto ficamos a ouvir os sons mais selvagens que habitam na selva profunda.
De olhos fechados, é deixá-los entrar!
dia treze
OS SEGREDOS DA FLORESTA YASHA
O lago Petém ainda está a dormir coberto de uma camada de cacimba. Como o sol ainda vai demorar a chegar, salto para o banho para abrir a pestana, tirar remelas e acordar os sentidos. Tudo por uma ordem aleatória, sem pressa nem interesse em ser bem sucedido.
Enquanto boio mas águas de Petém ponho-me a pensar se é este que tem crocodilos. Pero que los hay, los hay…
A Reserva da Biosfera Maya é a maior floresta tropical protegida da América do Norte. Espalhando-se por 1,7 milhões de hectares no departamento de Petén, na Guatemala, essa reserva protege uma imensidão de floresta tropical virgem e ruínas maias que, muitas delas ainda estão por descobrir. O Parque Nacional Yaxha está lá encaixado dentro e, em tempos que já ninguém é vivo, era a capital de um extenso território que dominava a parte nordeste de Petén , embora tivesse ligações muito fortes com a cidade de Tikal, Caracol em Belize e Calakmul no México.
Devido à presença de impressionantes lagoas e zonas húmidas que fazem parte das principais rotas de aves migratórias, bugios e macacos-aranha e uma variedade incrível de pássaros tropicais. A presença dos animais selvagens é uma constante nos nossos ouvidos e, com alguma sorte, gravados na retina.
Pela tarde, apanha-se um autocarro para morder o ambiente em Flores.
Flores é uma pequena ilha no meio do lago Petén. Para ser honesto, chamar ilha é simpatia, pois já aldrabaram o conceito com uma ponte.
Dizia, Flores é uma “ilha” tranquila, segundo uma estatística marada, um dos 25 lugares mais coloridos do mundo. Abriga uma grande concentração de restaurantes, cafés e pubs para nós manter ocupado com uma Picocita nas unhas e dar tudo em rambóia farta até a eterna primavera de deixar cair no horizonte.
Hasta siempre Guate amiga💛
GUATEMALA – O MELHOR DA AMÉRICA CENTRAL
O país mais diverso da América Central cativa pelas paisagens extraordinárias e uma cultura que abrange toda a civilização que remonta a séculos. Terra dos Maias.
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mais informações: @landescape_viagens
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