São 4 dias mergulhados no imenso maciço de granito, picos acima dos mil metros, florestas de carvalhos centenários e cascatas de água cristalina.
Esta terra de pastores, liberdade dos cavalos garranos, o malabarismo das cabras-monteses e tradições seculares de vivência montanheira, vai ser o cenário de uma grande aventura.
“Tudo se conjuga para que nada falte à sua grandeza e perfeição.”
Miguel Torga
dia um
Por caminhos medievais, das Inverneiras ao Muranho
19 km | +D 1540m | 6 h
Levamos com a natureza toda no lombo. Temos sol, farto vento, nevoeiro em barda e cântaros de chuva. “O Soajo é um penico”, desabafa o Manuel, filho da terra e montanheiro de coração, enquanto levanta a mão para sentir a chuva a bater.
Entre caminhos florestais, deixamos para trás a aldeia do Soajo até ao vale, ladeado por muros graníticos coberto por um bosque de carvalhos. O Gerês tem um verde que só existe cá. Por vezes, tenho que tirar uns pontos na saturação para não acharem que estou a dar baile.
Caminhamos para onde os cavalos garranos correm livremente e as cabras montesas reinam nos picos de granito. Agora sim, mergulhámos no coração do Parque Nacional do Gerês. Esse bicho temperamental.
De rusticidade ímpar, maior do que qualquer outro bovino autóctone da península ibérica, a Vaca Cachena é aquela que encontramos na alta montanha, acima dos 800 metros e que, pela sua dimensão e resistência às condições mais adversas, pasta livremente em grupo, em áreas amplas e comuns, vive ao ar livre durante praticamente todo o ano. Esta raça serrana vive semi-selvagem, muitos diriam feliz, pelas altas cotas do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
dia dois
Explorar as terras altas do Soajo Serrano
18 km | +D 1230m | 6,5 h
Seja inverno, seja verão, a manhã aos 1200m de altitude é sempre fresca. Enquanto os nossos corpos acordam lentamente, o cheiro a fumeiro lembra-nos o fogo que nos aqueceu a cara na noite passada. Depois da Cerelac Tsunami, o trilho segue para Norte sem grandes oscilações, até começar a descer o vale. Com alguma sorte e o olhar atento para as cristas de granito, podemos dar conta de cabras montesas a dar lições de como galgar montanha com estilo. O trilho luta o protagonismo com giestas, fetos e carquejas que, volta e meia, apontam para o osso que dói mais. Não mata, mas que mói, mói. Pouco antes de Adrão, uma aldeola que dá nome ao rio, somos cercados pelo rebanho de ovelhas bordaleiras do Sr. Amorim e seus cães sabujos, esses sacanas tão manhosos como eficientes no pastoreio. Já o ilustre pastor não faz cerimónia para um dedo de conversa e um braço inteiro de simpatia.
Depois de Adrão, é sempre a subir! Trekking devia ser considerado o desporto rei para um glúteo lindo. O Alto da Pedrada já se vê ao longe, mas um longe lá muito no alto, que tanta luta dá às pernas. Aos 1412 metros, em dias bons, vemos o mar. Nos maus, nem a ponta de um corno Cacheno. Vamos andando que o jantar está quase pronto.
“Com 1 camada de cansaço e 2 de emoções a flor da pele. Experiencia que crava marcas nos músculos, nos pés, na pele e no coração... Marcados pelo sorriso, pelo riso de cada transumante.”
dia três
Serra abaixo até aos segredos da Murça
14 km | +D 490m | 5 h
Enquanto escorrega uma colher cheia de Cerelac-Tsunami pela guela, não me sai da cabeça a imagem do sol a nascer nestas montanhas. Estamos no coração da Serra do Soajo, onde a natureza e a tranquilidade da montanha transpiram liberdade. Deixamos a casa que nos deu guarida para nos fazermos ao trilho, seguindo mariolas discretas, contornando Cachenas e, ao longe, seguimos belas manadas de Garranos com os olhos.
A viagem faz-se a descer pelos prados de altitude até aos caminhos de romeiros em peregrinação, lá para os lados de Insua, onde os carvalhos dão sombra fresca e bons amigos nos recebem para almoço. Depois das carnes da noite passada, espera-nos um repasto detox com os legumes e fruta mais bem tratados da região, cuidadosamente preparado pelo Yassine e a Joana. Com sorte, ainda há uma pinga de aguardente para a digestão e alento para 30 minutos a descer ravina para um mergulho de rio.
Chegamos ao rio Adrão, selvagem, onde partilhamos hora do banho com trutas, corços, raposas, lontras ou javalis.
Com o avançar da tarde, acompanhamos o rio numa floresta de carvalhos, brandas e inverneiras, caminhos ancestrais até à cerveja fresca do Jovem, no Soajo.
Uma viagem de sons, cheiros e emoções imersa em paisagens que transpiram imensidão. Caminhos autênticos que nos desafiam corpo e mente, deixando à vista as vulnerabilidades que nos tornam únicos. Comigo trouxe o nascer do sol, os cortelhos, o açafrão selvagem, as paletas de verdes, a magia das águas, o companheirismo, os anoiteceres de pés descalços e a alma bem cheia.
dia quatro
Jornada aquática, pelo rio Adrão acima
5 km | +D 230m | 3 h
É um dia em cheio para a pachorrenta arte do aqua-relax! o river trekking sabe a SPA nos corpos meio amassados pelos três dias de caminhada na Serra. A água fresca do Adrão tem propriedades turbo boost nos músculos e descarta qualquer apetência para a denguice. Recuperação activa de luxo, portanto. O @manuelribeirotraveler percorre o rio desde que se conhece como gente e é com um entusiasmo genuíno que, enquanto vencemos a corrente, partilha connosco os seus segredos. Mais um poço, mais um salto, um olá a um lagarto curioso ou um mergulho neste incrível verde explosão.
Obrigado ao Manuel, ao Alexandre e à Ana pelo apoio e amizade 💚🙏
Ganhei uma família no Soajo! com o parceria Soajo Nomadis
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